Wednesday 12 February 2020

Obituary for Alex da Silva in Portuguese


Obituary for Alex da Silva (1974 – 2019)
Author: Joe Pollitt
Translation: Patricia Dis | www.facebook.com/patriciadiis

Date: 06/02/2020



Photo by Max Dereto

Obituário de Alex da Silva

Alex da Silva morreu no dia 30 de dezembro de 2019, com 45 anos. Sofreu um ataque cardíaco fatal enquanto jogava basquetebol na sua amada cidade do Mindelo. As causas da sua abrupta morte ainda são desconhecidas. Nascido em Luanda, Angola, em 1974, filho dos cabo-verdianos Maria Iloisa Silva e Emídio Da Cruz Barbosa Andrade, era o irmão mais novo da sua irmã, Paula. Cabo Verde conquistou a independência a 5 de Julho de 1975 e um ano depois, a família regressou a São Vicente para criar os seus filhos na cidade libertada do Mindelo.

Alex destacava-se no desporto, dentro e fora de água; Era um jogador de basquetebol competitivo e um verdadeiro pioneiro, apresentando aos seus amigos os prazeres do bodyboarding e da pesca submarina. Inicialmente imaginava o seu, futuro como biólogo marinho, mas na sua mente florescia a vontade de se tornar um artista internacional. Não demorou muito para que São Vicente se tornasse bastante claustrofóbico para um jovem artista ambicioso e confiante. Em 1993, com 19 anos, foi-lhe concedida a prestigiada Bolsa do Príncipe Claus para a Academia Willem de Kooning, em Roterdão, para estudar Arte e Arquitetura. Alex aceitou o desafio e percebeu que a Academia era a instituição perfeita para o seu estilo de arte.

Na Academia, Alex trabalhou diligentemente na sua técnica, explorando a anatomia humana enquanto esticava membros e torsos; criando na tela exageradas figuras torturadas. Para deleite do artista a Academia permitiu-lhe explorar e desenvolver o seu próprio estilo "Xand" e, após três anos favoráveis, Alex da Silva formou-se com honras em 1996.

Um ano depois, Alex participou no "Programa de Intercâmbio SOCRATES-ERASMUS", e conseguiu estudar mais dois anos na Faculdade de Belas-Artes de Alonso Cano, em Granada, Espanha. O clima mais quente agradava ao artista. Estando em Granada, no coração do flamenco de Espanha, Alex deixou-se envolver pela rica cultura e gastronomia espanhola; apreciando a música, a dança, o azeite e o vinho tinto.

Em 1999 expôs em Cabo Verde, Holanda e Espanha. As exposições foram bem recebidas pelos críticos mas as vendas das suas obras não se faziam chegar. Em 2000, regressou aos Países Baixos e obteve o seu Pós-Graduado e Mestrado em Arte, na Minerva Academy, Groningen. Depois das suas primeiras exposições, as notícias espalharam-se rapidamente e Alex tornou-se um "jobbing artist" *, traduzindo-se em convites para comparecer em workshops, para participar em exposições coletivas e a criar as suas exposições individuais. Durante as décadas seguintes, Alex tinha trabalho regular e era convidado a expor nos Emirados Árabes Unidos, Dak'Art Senegal, Luxemburgo, Curaçao, Açores, Macau e China. Participou também em vários workshops em França, Portugal, Noruega e Itália.

Em 2007, Alex foi para o Mindelo construir e estabelecer a Galeria ZeroPoint. A galeria rapidamente se tornou o centro cultural da Cidade, impulsionando o trabalho de arquitetos internacionais, bailarinos, músicos e até escritores. Para suportar esta nova construção, Alex deu aulas de desenho e arquitetura na Universidade do Mindelo. Em 2008, a Galeria estava quase completa e Alex regressa a Roterdão. Agora, tendo um espaço fixo, Alex começou a dividir o seu tempo entre dois mundos. Interessou-se cada vez mais pelo desenvolvimento e posicionamento global da Arte Africana Contemporânea.

Em 2012 foi designado para criar um monumento, intitulado "Clave", em Roterdão, para celebrar o 150º aniversário da abolição da escravatura holandesa do Suriname e das Antilhas nas Caraíbas Holandesas. Foi uma grande honra, uma vez que Roterdão tem uma das mais esplêndidas Coleções de Escultura do mundo. Alex certamente sentiu que este era um ponto de viragem no seu desenvolvimento artístico. Na base do monumento há palavras em stencil, em holandês, "Het lichaam dat slaaf é vertrekt de ziel die vrij é blijft" (O corpo do escravo é levado, mas o seu espírito permanece para sempre livre); de uma tradicional canção folclórica de Cabo Verde - 'Morna'. A escultura foi inaugurada em 2013. Este monumento em homenagem aos Escravos é agora um elemento permanente na Paisagem Urbana de Roterdão. Alex da Silva encontra-se entre os maiores escultores de sempre: Henry Moore, Auguste Rodin, Picasso e Carl Nesjar, Ossip Zankine e George Rickey e muitos outros. Todo o crédito para os  multiculturais Roterdaneses, por prestarem homenagem a um artista Africano e colocarem a sua obra-prima "Clave" num local tão proeminente, na foz do famoso porto de Roterdão, no cais de Llody Pier.

Embora Alex talvez venha a ser mais lembrado pelo seu "Monumento Escravo", são as suas pinturas, as suas complexas, brutais figuras agonizantes e os múltiplos retratos que, precisam de mais exploração e exposição. Um prolífico artista que deixou uma quantidade substancial de obras de arte. Alex tinha uma incrível capacidade de trabalhar com tinta, técnica mista, escultura e arquitetura. Ele manobrava fácil e confortavelmente todos esses diferentes meios. O seu falecimento deixa um vazio no que diz respeito ao desenvolvimento cultural da África Criativa.

Alex da Silva

Alex da Silva deixa para trás a sua companheira Brenna e a sua filha Odile de seis anos.


* alguém que não trabalha regularmente para uma pessoa ou organização, mas sim que, realiza pequenos trabalhos para diferentes pessoas ou entidades. 



Patricia Dis
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