Obituário de
Alex da Silva
Alex da Silva morreu no dia 30 de
dezembro de 2019, com 45 anos. Sofreu um ataque cardíaco fatal enquanto
jogava basquetebol na sua amada cidade do Mindelo.
As causas da sua abrupta
morte ainda são desconhecidas.
Nascido em Luanda,
Angola, em 1974, filho dos cabo-
verdianos Maria
Iloisa Silva e Emídio Da
Cruz Barbosa Andrade, era o irmão mais novo da sua irmã, Paula. Cabo
Verde conquistou a independência a 5 de Julho de 1975 e um ano depois, a
família regressou a São Vicente para criar os seus filhos na cidade
libertada do Mindelo.
Alex destacava-se no desporto, dentro e fora
de água; Era um jogador de basquetebol competitivo e um verdadeiro
pioneiro, apresentando aos seus amigos os prazeres do
bodyboarding e da
pesca submarina. Inicialmente imaginava o seu, futuro como biólogo marinho, mas na
sua mente florescia a vontade de se tornar um artista internacional.
Não demorou muito para que São Vicente se tornasse bastante
claustrofóbico para um jovem artista ambicioso e confiante. Em 1993, com
19 anos, foi-lhe concedida a prestigiada Bolsa do Príncipe
Claus para a
Academia
Willem de
Kooning, em Roterdão, para estudar Arte e
Arquitetura.
Alex aceitou o desafio e percebeu que a Academia era a
instituição perfeita para o seu estilo de arte.
Na Academia,
Alex trabalhou diligentemente na sua técnica, explorando a anatomia
humana enquanto esticava membros e
torsos; criando na tela exageradas
figuras torturadas. Para deleite do artista a Academia permitiu-lhe explorar e desenvolver o
seu próprio estilo "
Xand" e, após três anos
favoráveis,
Alex da Silva
formou-se com honras em 1996.
Um ano depois,
Alex participou no
"Programa de Intercâmbio
SOCRATES-ERASMUS", e conseguiu estudar mais
dois anos na Faculdade de Belas-Artes de
Alonso Cano, em Granada,
Espanha. O clima mais quente agradava ao artista. Estando em Granada, no
coração do flamenco de Espanha,
Alex deixou-se envolver pela rica cultura e
gastronomia espanhola; apreciando a música, a dança, o azeite e o vinho
tinto.
Em 1999 expôs em Cabo Verde, Holanda e Espanha. As
exposições foram bem recebidas pelos críticos mas as vendas das suas
obras não se faziam chegar. Em 2000, regressou aos Países Baixos e
obteve o seu Pós-Graduado e Mestrado em Arte, na Minerva
Academy,
Groningen. Depois das suas primeiras exposições, as notícias
espalharam-se rapidamente e
Alex tornou-se um "
jobbing artist" *, traduzindo-se em convites para comparecer em workshops, para participar
em exposições
coletivas e a criar as suas exposições individuais. Durante
as décadas seguintes,
Alex tinha trabalho regular e era convidado a
expor nos
Emirados Árabes Unidos, Dak'Art Senegal, Luxemburgo,
Curaçao,
Açores, Macau e China. Participou também em vários workshops em França,
Portugal, Noruega e Itália.
Em 2007,
Alex foi para o Mindelo
construir e estabelecer a Galeria
ZeroPoint. A galeria rapidamente se tornou o
centro cultural da Cidade, impulsionando o trabalho de arquitetos internacionais, bailarinos,
músicos e até escritores. Para suportar esta nova construção,
Alex deu
aulas de desenho e arquitetura na Universidade do Mindelo. Em 2008, a
Galeria estava quase completa e
Alex regressa a Roterdão. Agora, tendo
um espaço fixo,
Alex começou a dividir o seu tempo entre dois
mundos. Interessou-se cada vez mais pelo desenvolvimento e
posicionamento global da Arte Africana Contemporânea.
Em 2012 foi
designado para criar um monumento, intitulado "Clave", em Roterdão,
para celebrar o 150º aniversário da abolição da escravatura holandesa do
Suriname e das Antilhas nas Caraíbas Holandesas. Foi uma grande honra,
uma vez que Roterdão tem uma das mais esplêndidas Coleções de Escultura do
mundo.
Alex certamente sentiu que este era um ponto de viragem no seu desenvolvimento artístico.
Na base do monumento há palavras em stencil, em holandês, "
Het lichaam dat
slaaf é
vertrekt de
ziel die vrij é
blijft" (O corpo do escravo é levado, mas o seu espírito permanece para sempre livre); de uma
tradicional canção folclórica de Cabo Verde - 'Morna'.
A escultura foi inaugurada em 2013. Este monumento em
homenagem aos Escravos é agora um elemento permanente na Paisagem Urbana de
Roterdão.
Alex da Silva encontra-se entre os maiores escultores de
sempre: Henry Moore,
Auguste Rodin, Picasso e Carl
Nesjar,
Ossip Zankine
e George
Rickey e muitos outros. Todo o crédito para os
multiculturais
Roterdaneses, por
prestarem homenagem a um artista Africano e colocarem a
sua obra-prima "Clave" num local tão proeminente, na foz do famoso porto
de Roterdão, no cais de
Llody Pier.
Embora Alex talvez venha a
ser mais lembrado pelo seu "Monumento Escravo",
são as suas pinturas, as suas complexas, brutais
figuras agonizantes e os múltiplos retratos que, precisam de mais exploração e exposição. Um prolífico artista que
deixou uma quantidade substancial de obras de arte.
Alex
tinha uma incrível capacidade de trabalhar
com tinta, técnica mista, escultura e arquitetura. Ele manobrava fácil e
confortavelmente todos esses diferentes meios. O seu falecimento deixa
um vazio no que
diz respeito ao desenvolvimento cultural da África Criativa.